domingo, 24 de abril de 2011

Lástima


Na aurora da minha vida anulei-me e vivi de acordo com o que esperavam de mim. Guardei todo desejo, anseio, dúvida, sentimento e pensamento que contradizia a marionete que eu era.
Ao meio dia, não suportei e meu coração transbordou, pondo fim àquela vida de mentiras. Fiz tudo o que tinha vontade, e tanta sede tinha, que exagerei, a gula falou mais alto que meus paradigmas. Então tornei-me insaciável. Eu não sentia o vento no rosto, o doce ou salgado, frio ou calor. Nada.
No pôr do sol só havia dor, culpa e um coração estraçalhado que contava apenas falhas, uma vida desperdiçada, sonhos jogados ao vento. Sentia-me banal, um rastro de impureza.
Agora a meia noite se aproxima. Lastimo não ter vivido dignamente, fui incapaz de dicernir verdade e farça. Rogo a todos que me perdoem pelo mal que lhes causei, apesar de não merecer misericórdia.
Em todas as minhas desventuras, tive a graça de não deixar decendentes, assim não passei adiante meus genes podres.
Mesmo depois de tudo o que fiz, ouso ainda desejar que as estrelas sejam piedosas em iluminar o caminho que ainda me resta, o qual seguirei sem mais companhias.

A vida de Sangue&Alma

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