sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Fragmento do coração



   Querida amiga,
   O outono passou depressa, já sinto o vento frio do inverno assobiando no meu ouvido. O frio evidencia minha solidão. Apesar da minha pouca idade, sinto meu espírito seco como as folhas amareladas que caem no jardim.
   Mas o pior é o sabor agridoce de um sentimento vão e incipiente, o qual esforço-me para minorar até que seja sufocado e esquecido. Não posso evitar a dor, mas posso amortecer. Sei que não podemos viver amortecendo, a morte sendo, mas, por hora, é melhor que continuar o amor tecendo.
   Receba junto de minha carta um fragmento do meu coração, que parto eu mesma antes que sofra mais.
   Meus carinhos e um tranquilo inverno.

Sua amiga de sempre.

A vida de Sangue&Alma

Simplicidade complexa


   Certo dia parei para observá-la e notei que, mesmo que eu insista em negar, ela é bonita.

   Eu fitava-a com seu fones de ouvido, cantando baixinho e pude notar além de seus olhos que estava triste, mas divertia-se com a música que poderia embalar seu pranto.
   Vez ou outra lançava-me um sorriso infantil, doce, contrário aos sentimentos que calejava-lhe o coração.

   Aquele sorriso... Um de seus tantos paradoxos que me confundem a todo instante, bem como sua generosidade egoísta.
   Numa simplicidade complexa a infância e a maturidade coexistem em seu ser. Ela tem pétalas perfumadas juntamente aos espinhos e é de uma realidade onírica.
   Eu ainda a observo. Nem sempre posso enxugar seu pranto, mas sempre poderei oferecer a mão para levantá-la.

A vida de Sangue&Alma

Taça de silêncio

Olhar vazio, mente distante
Uma taça de silêncio em mãos
Ébria em sua dor constante

Dor...
Mas que dor é essa, afinal?
O vazio, eis seu dissabor

Cada gole naquela taça torrencial
Era-lhe corrosivo
Num paradoxo infernal

Por que não punha fim ao seu pranto?
Por que calava-se? Simples:
Não vivia sem aquele manto

A vida de Sangue&Alma