terça-feira, 30 de abril de 2013

Rota 66


Cap.4
            Acordei cedo no dia seguinte e resolvi caminhar. Em poucos minutos, encontrei metade da cidade parados em volta de algo, assustados e alguns chorando, o bando de garotas cabeças ocas entre eles. Uma delas chorava histérica e ao me ver, apontou e berrou “Foi ela!”. Só descobri do que se tratava quando vi o corpo ensanguentado da líder.
            O xerife veio até mim para um segundo interrogatório. Desta vez eu tinha um álibi, passara a noite sob a vista de meus tios, mas isso não parecia suficiente para o Porter.
            -Então Srtª Ross, novamente uma discussão em público seguida por uma morte com as mesmas características. Como a Srtª explicaria isso?
            -Alguém está fazendo um favor a esta cidadezinha.
            -Testemunhas afirmam tê-la visto ameaçar a vitima noite passada. A Srtª nega?
            -Não. É uma pena que não pude dar uns tapas naquela hiena, alguém foi mais rápido. E eficaz.
            -Srtª, terei de fazer uma busca na casa dos seus tios.
            -Você acha mesmo que fui eu, né? Vai em frente, com ou sem um mandato.
            O xerife vasculhou a casa e o dinner dos meus tios, sem encontrar o que procurava. Fiz questão de acompanhá-lo e indicar possíveis esconderijos, apenas para irrita-lo. Ele estava certo de que encontraria qualquer indicio de que a culpa era minha e tinha sorte de ser bonito, ou seria só mais um caipira burro.
            Dois dos meus desafetos tiveram mortes misteriosas e minha fama de “assassina” se espalhou rápido, mas isso não foi o suficiente para repelir todos, ainda havia alguns idiotas que se sentiam atraídos pelo perigo, como insetos pela luz. Nos dois casos, o fim é o mesmo.
            Naquela noite, a maioria dos clientes me evitava o máximo possível e eu até gostei daquilo, sem gente chata torrando minha paciência e pouco trabalho. Isso até um cara provar que era burro o suficiente para mexer comigo. Era um magrelo alto usando cavanhaque, ele me puxou pelo braço uma cantada estúpida.
            -É melhor você me soltar.
            -Ouvi os boatos sobre você, mas não tem problema, adoro gatas ariscas _ele sorriu de um modo nojento.
            -Escuta aqui Salsicha_ soltei meu braço e o ameacei com o punho_ é melhor você se mandar e ir procurar o Scooby, ou a coisa vai ficar feia pro teu lado.
            Virei de costas sem esperar pela resposta, mas ele estava disposto a me testar passando a mão onde não devia. Virei novamente para ele e dei-lhe um soco que o derrubou da cadeira, outras pessoas o ajudaram e sorri ao ver seu nariz sangrando.
            -Se quiser mais, é só dizer! _falei enquanto ele saía e esbarrava numa gorda e no cabeça de ovo.
            Nem preciso dizer o que aconteceu na manhã seguinte. Tio Ben estava preocupado comigo e pensou que seria melhor eu passar uma temporada fora, mas eu não faria isso, seria o mesmo que assumir essa limpeza. E eu queria saber qual seria o próximo passo do xerife, ele estava decidido a me culpar e eu só não  estava atrás das grades por falta de provas.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Rota 66




Cap.3
            Eu via TV com Alan quando alguém bateu na porta e Charlote atendeu.
            -Bom dia xerife Porter _ela cumprimentou.
            -Bom dia Srª Ross, eu preciso falar com sua sobrinha.
                -A Ella se meteu em confusão?
            -A Srtª Ross foi uma das últimas pessoas a falar com a vítima, preciso apenas de algumas informações.
            Charlote e Alan saíram da sala, deixando-me a sós com o xerife. Ele sentou na poltrona ao meu lado e evitei olhar diretamente aqueles olhos verdes enquanto ele fazia perguntas sobre o horário que voltei para casa, se permaneci em casa desde então e se havia alguém que pudesse confirmar.
            -Há poucos dias a Srtª saiu do reformatório do Kansas, detida pela morte de Tyler Hudson, tem duas tentativas de fuga e inúmeras brigas no seu histórico.
            -Investigando meu passado, xerife? _eu sorri, encarando-o pela primeira vez durante a conversa.
            -Noite passada a Srtª discutiu com o Sr Collin na presença de várias...
            -Isso não quer dizer _interrompi_ que eu matei o cara de porco ou saiba quem nos fez esse favor.
            -A Srtª confirma que a morte do Sr Collin a agrada?
            - O cara era um idiota! Muita gente deve ter gostado da noticia. Mais alguma pergunta?
            -Nenhuma. Por hora. Mas ficarei de olho em você.
            Menos de 48hrs na cidade e o xerife já estava no meu pé, que ótimo! E os outros caipiras também não foram com a minha cara, naquela noite eu consegui mais uma discussão em público.
            Cinco garotas mais ou menos da minha idade estavam no dinner, eram caipiras metidas a besta, lideradas por uma cabeça oca de nariz empinado. A tal líder me olhou de cima a baixo com desdém, cochichou algo para as outras e todas riram, depois derramou metade do refrigerante no balcão e me disse para limpar e levar-lhe outro copo. Percebi o olhar do tio Ben então tentei ser paciente, servi novamente a bebida e enquanto eu limpava o balcão, ela puxou conversa, debochando do meu cabelo e das minhas roupas.
            -Cala a boca, sua hiena caipira,_falei cerrando os dentes_ não aguento mais sua voz irritante! Você precisa das suas bajuladoras te cercando pra se sentir menos burra? Sinto muito, mas são todas inúteis!
            -Garota _ela levantou me olhando de cima_ você sabe com quem está falando?
            -Com uma caipira burra que vai levar um soco se não calar a boca.
            -E quem vai me bater, você garçonete?
            Pulei o balcão e, antes que eu pudesse alcança-la, a garota refugiou-se atrás de um cliente que acabara de chegar. Ela agarrou o cabeça de ovo pelos braços, fazendo dele seu escudo pedindo “Sr Green, socorro, ela está louca!” Tentei puxa-la pelo cabelo, mas tio Ben me deteve e pude apenas ameaça-la.
            -A próxima vez que você cruzar meu caminho eu quebro a tua cara.

sábado, 27 de abril de 2013

Rota 66


Cap.2
            Aos 18 anos pude sair daquele lugar cheio de garotas problemáticas, com as quais tive inúmeras brigas. Tio Ben concordou em me receber, Alan ficaria muito feliz em me ter por perto. Mal sabia eu o que a Rota 66 nos reservava.
            Cheguei em 4 de junho, dois dias após meu aniversário. Encontrei exatamente o que esperava: uma cidade empoeirada, presa nos anos 70, de aparência entediante, uma completa perda de tempo se meu irmão não estivesse ali. Não havia muito o que se fazer por lá, apenas matei as saudades do meu irmão e no dia seguinte comecei a trabalhar no dinner.
            Todos me pareciam caipiras chatos, alguns eram bêbados irritantes ou garotas burras de nariz empinado. Um dos bêbados era bem gordo, com cara de porco, cabelo louro engordurado e me chamava à atenção a cada dez segundos. Pedindo que enchesse o copo ou que fosse mais gentil. Algumas vezes ele dava tapinhas no ombro de um magricela cabeça de ovo que sentou ao seu lado, instigando-o a concordar com ele.
            -Garota! _ele berrou_ Não quero ver o fundo do meu copo! Custa alguma coisa você sorrir? Uma jovem tão bonita não devia ficar assim emburrada!
            -Escuta aqui seu bêbado idiota _respondi quando não aguentava mais_ Há duas insuportáveis horas você me enche o saco pela droga dessa bebida, já deve ter tomado uns três barris! E ainda quer que eu sorria!? Dane-se se você é um gordo idiota de 40 anos que ainda mora com a mamãe! Dane-se que você bebe pra esquecer que tem uma vidinha de merda e não encontrou nenhuma desesperada que se interessasse por você! Não vou sorrir, não vou ter peninha de você e não vou aturar gracinhas! Se você quer beber, beba até cair, mas beba calado!
            O cara de porco ficou branco como papel e as pessoas em volta pareciam tão assustadas quanto ele. Meu tio estava a caminho quando outro cara me disse para pegar leve. Olhei para ele e me deparei com seus olhos verdes, traços marcantes, devia ter pouco mais de vinte anos, mas aparentava mais devido à barba. Um rosto que dificilmente eu esqueceria. Era o xerife.
            Senti meu rosto corar, mas não baixei a guarda. Meu tio chegou desculpando-se antes que eu pudesse responder, então lhe entreguei meu avental e saí pisando firme. Caminhei pela velha estrada por algum tempo e só voltei por volta da meia noite, quando meu irmão e meus tios já estavam deitados.
Na manhã seguinte, acordei com Alan batendo na porta do meu quarto
-Ella, Ella, o Sr. Collin foi morto!
            -Quem é esse Sr Collin? _perguntei sonolenta e sem interesse real.
Tive uma grande surpresa ao descobrir que o tal defunto era o cara de porco. Ele foi encontrado a poucos metros de casa com cortes de faca nos braços e um golpe fatal no estômago. A única coisa que pude pensar foi “adeus, cara de porco”. 

Rota 66


            Todos têm segredos e muitos cabeças-ocas precisam de uma vida dupla para não se sentirem tão insignificantes como são. O problema é quando essa dupla identidade é vil e obscura, encontrando prazer em ferir inocentes. O sangue em minhas mãos confirma esse caso deplorável.

Cap. 1
            Me chamo Ella Ross, há cinco anos, meus pais morreram num acidente de caro, então eu e meu irmão Alan, de apenas 2 anos, ficamos sob os cuidados da nossa tia Jude. Ela era uma boa pessoa, simplória eu diria, seu maior defeito era a excessiva ingenuidade, que não lhe permitia julgar corretamente as pessoas.
            Tia Jude morava com o namorado, Tyler. Um tipo esquisito, com olhar sínico, sorriso dissimulado e jeitão de cafajeste que conseguia dobrar minha tia a todas as suas vontades apenas cantando “Hey Jude”.
            Certo dia, minha tia saiu para visitar uma de suas amigas de mente vazia. Eu estava na cozinha preparando um lanche para Alan quando Tyler se aproximou com passos suaves, voz macia e um olhar que parecia me despir. Eu sabia onde ele queria chegar com sua lenga-lenga, então tentei me apressar, mas ele me atacou com um beijo asqueroso e rasgou minha blusa.
            Tentando me libertar, busquei às cegas por qualquer objeto e agarrei uma faca de carne. Eu estava apavorada, mas faria o que fosse preciso. Desferi um golpe em suas costas, ele recuou alguns passos e caiu no chão. Corri para o quarto que eu dividia com Alan e abracei meu irmão até parar de tremer.
            Depois disso, fui para o reformatório e Alan para o Texas, morar com nosso tio Ben e a esposa Charlote, que tinham um dinner na Rota 66. Eu só esperava meu irmão estivesse em boas mãos.

sábado, 20 de abril de 2013

Restos


Nada me resta a fazer
Só me resta solidão
E com ela perecer
Nos restos de uma canção

Pareço apenas ter
Os restos de um coração
E por ele perder
O que me resta de paixão

Os restos de um ser
Declarando em confissão
Seu pesaroso viver
Na malograda escuridão

Cansada de sofrer
Após tanto perdão
Desisto de ceder
Aos restos de ilusão

A vida de Sangue&Alma

sábado, 6 de abril de 2013

Peregrina

   Uma menina presa num corpo de mulher. Ou seria o contrário?
   Lágrimas de doçura e sorrisos de amargura, um semblante singular. Olhos que brilham confusos com os pensamentos difusos. Vivendo o abstrato, sonhando  concreto, aspirando o afeto ao caminhar no deserto.
   O sorriso é seu mantra, tantas vezes o repete, que crê ser feliz apenas com a própria companhia.
   Assim como a lua, faz da noite seu reinado.Brilha, ilumina, dança por entre as nuvens. Mas lhe basta uma brisa para minguar. A peregrina se vê perdida entre o real e o faz de conta.
   Afinal, o que é real?
   Ela então vaga acompanhada da imaginação, buscando o futuro em cada passo, na fronteira entre razão e emoção.

A vida de Sangue&Alma

Garoto


Foi o doce garoto
de olhar maroto,
com sorriso de arteiro 
e jeitinho de bagunceiro
que conquistou meu afeto.
O quero cada vez mais perto.

Fizera alguma magia?
Ora, quem diria!
Ele desarmou a fera
e ganhou a Bela.

Agora meu desejo
é o doce do teu beijo,
é estar em teus braços
e tê-lo em meus abraços.
Mas meu caro, seja como for
dar-te-ei o meu amor.

A vida de Sangue&Alma