sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Indigna

   Se em toda minha caminhada até então conquistei por mérito alguma ventura, esta não me foi apresentada.
   Dizem que o mundo é para os fortes, e se estes padecem na amargura de uma sobre-vida, preferia eu estar dentre os fracos. Mas se não venho sendo forte, o que sou, então?
   Silenciosa, acumulo fardos. Pequenos, reconheço. Mas quando ajuntam-se, pesam tanto sobre mim, que curvo-me sucumbindo ao pranto.
   Queria eu ter ao menos o direito de sentar-me e pousar os fardos ao meu lado um instante, e, na calmaria da solidão, tentar aliviar minha dor. Porém, nem mesmo de tal coisa sou digna.
   O fardo que mais me pesa e sangra minh'alma, é de esforçar-me ao máximo para ser o melhor que for capaz - daria todo meu sangue, suportaria lancinante dor - para orgulhar a quem de mim não tem misera compaixão.
   Não peço reconhecimento, longe de mim vangloriar-me! Peço apenas, como um dos mais humildes, um pouco de compaixão. Um mísero laivo de compaixão! Nem mesmo o mais forte e poderoso dos humanos permanece inatingível o tempo todo. Até ele merece um descanso. E se até mesmo o Senhor Deus descansou após a Criação, poderia eu, uma reles e frágil humana, feita de carne e sangue, repleta de fraquezas, viver sem um descanso?
   Se não for digna sequer de compaixão, leve-me a vida, pois eu não soube fazer dela bom uso.
   Sou dramática? Tudo tem limite? Pois bem, digo-lhe que novamente encaro o meu. Vejo-me mais uma dolorosa vez face a face com minha maior fraqueza: a exaustão.
   E veja então que a vida vem fazer troça de mim! E chega a divertir-me ao dizer que sou fraca. Eu, que suportei calada e venho suportando repetidas vezes, até ver que... De bom grado, abro mão de meus bons anos, para no fim, ser indigna até mesmo de pena.
   Pena. De todos os sentimentos, aquele que acarreta maior desprezo, que até mesmo a suspeita de sua existência ofende, fere. Mas aqui estou eu, em mais um de meus paradoxos: humilhada, exausta, acabada e ainda assim, indigna até mesmo de pena.
   Não vos tenho servido bem? Não empenho minha vida em orgulhar-vos? Se ela é tão miserável, leva-a, já não possuo nada mesmo! Esta vida não há de fazer falta a ninguém.

A vida de Sangue&Alma

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