domingo, 5 de maio de 2013

Rota 66


Cap.7 - Final
            O desgraçado foi trabalhar normalmente naquele dia, o que me deu tempo de entrar na sua casa. Abri a porta dos fundos com um canivete e busquei pela faca ou qualquer prova. Aquela casa era estranha, parecia ter saído de um filme em preto e branco, era incrivelmente limpa e não tinha sequer uma fotografia. Pra mim já era prova suficiente de que ele era um psicopata.
            Subi para o quarto e revirei as gavetas, onde encontrei um recorte de jornal que falava da prisão de um casal por matar o filho de oito anos e torturar o de seis. Ilustrando a noticia, havia uma foto de família: o pai carrancudo, a mãe com cara de dor, um garoto magricela assustado e um menor, que logo reconheci. Trinta anos mais novo, mas era ele sem dúvida, o assassino filho da mãe.
            E para meu azar, ele resolvera voltar mais cedo. Quando o ouvi chegar, fechei a gaveta, guardei o recorte no bolso e me escondi em baixo da cama. O ouvi entrar no quarto e vi seus pés irem até o banheiro e só deixei meu esconderijo quando ouvi o chuveiro ligado. Desci silenciosamente para a cozinha e procurei pela faca, não perderia esta oportunidade.
            -Procurando por isto? _a voz soou atrás de mim e senti um calafrio.
            Girei nos tornozelos e o encarei. O cabeça de ovo estava sem camisa, segurando a maldita faca. Vi em seus braços marcas de queimaduras a ferro, feitas na infância por seus pais e então percebi que o gordo bêbado, a líder fresca e o Salsicha tocaram o lugar das cicatrizes, provavelmente Porter também.
            -Você se acha muito esperta, não é? _ele continuou_ Mas você e seu irmão seriam realmente espertos se não entrassem no meu caminho.
            -Seu desgraçado filho da...
            -CALADA! _ele berrou e fez um corte no meu braço esquerdo_ A Srtª receberá um tratamento especial.
            O cabeça de ovo acertou minha cabeça com o cabo da faca e desmaiei. Quando acordei, estava sentada numa cadeira, amordaçada, com pulsos e tornozelos amarrados.
            -Bom que você acordou _ ele sorriu_ já estava impaciente para começarmos a diversão.
            Ele esquentava a faca numa chama acesa no fogão enquanto dizia que me daria marcas como as suas. Mas eu não me daria por vencida assim tão fácil. Lembrei-me do canivete no meu bolso, o alcancei e comecei a cortar discretamente a corda nos meus pulsos.  Então a campainha tocou como por Providência Divina.
            -Se você gritar _ ele ameaçou baixinho_ eu mato quem estiver lá, entendeu?
            Fiz que sim com a cabeça e ele se foi, deixando a faca sobre a mesa, como um lembrete do que me aguardava. Consegui me livrar logo das cordas e fiquei com o coração apertado ao ouvi a voz do meu tio vinda da sala. Ben perguntava por mim, passei o dia todo sem dar noticias.
            O cabeça de ovo o despachou e voltou para a cozinha, quando não me viu amarrada na cadeira, procurou pela faca, mas ela também não estava onde ele deixara.
            -Surpresa _falei após cravar em suas costas a própria arma.
            Dois pensamentos vieram à minha mente. Primeiro: “Alan, vinguei você, meu irmão.” Segundo: mais uma vez minhas mãos estavam sujas com o sangue de um monstro. Parecia que minha vida se resumia a mortes e desgraça.
            Usei a mordaça para estancar o corte no meu braço e voltei ao hospital para falar com Porter. Contei-lhe tudo o que aconteceu, e disse que podia me prender, eu não me importava de ficar mais tempo atrás das grades.
            -Eu não prenderia minha salvadora beijoqueira. _Foi sua resposta, e me deixou corada. Ao que parece, pela manhã ele não estava tão inconsciente quanto o médico falou.
            Resumindo, de criminosa, passei a heroína. Não fui presa por dar cabo daquele monstro, todos da cidade ficaram do meu lado e ainda conquistei o xerife.

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