Cap.7 - Final
O desgraçado foi trabalhar
normalmente naquele dia, o que me deu tempo de entrar na sua casa. Abri a porta
dos fundos com um canivete e busquei pela faca ou qualquer prova. Aquela casa
era estranha, parecia ter saído de um filme em preto e branco, era
incrivelmente limpa e não tinha sequer uma fotografia. Pra mim já era prova
suficiente de que ele era um psicopata.
Subi para o quarto e revirei as
gavetas, onde encontrei um recorte de jornal que falava da prisão de um casal
por matar o filho de oito anos e torturar o de seis. Ilustrando a noticia,
havia uma foto de família: o pai carrancudo, a mãe com cara de dor, um garoto
magricela assustado e um menor, que logo reconheci. Trinta anos mais novo, mas
era ele sem dúvida, o assassino filho da mãe.
E para meu azar, ele resolvera
voltar mais cedo. Quando o ouvi chegar, fechei a gaveta, guardei o recorte no
bolso e me escondi em baixo da cama. O ouvi entrar no quarto e vi seus pés irem
até o banheiro e só deixei meu esconderijo quando ouvi o chuveiro ligado. Desci
silenciosamente para a cozinha e procurei pela faca, não perderia esta
oportunidade.
-Procurando por isto? _a voz soou atrás
de mim e senti um calafrio.
Girei nos tornozelos e o encarei. O
cabeça de ovo estava sem camisa, segurando a maldita faca. Vi em seus braços
marcas de queimaduras a ferro, feitas na infância por seus pais e então percebi
que o gordo bêbado, a líder fresca e o Salsicha tocaram o lugar das cicatrizes,
provavelmente Porter também.
-Você se acha muito esperta, não é?
_ele continuou_ Mas você e seu irmão seriam realmente espertos se não entrassem
no meu caminho.
-Seu desgraçado filho da...
-CALADA! _ele berrou e fez um corte
no meu braço esquerdo_ A Srtª receberá um tratamento especial.
O cabeça de ovo acertou minha cabeça
com o cabo da faca e desmaiei. Quando acordei, estava sentada numa cadeira,
amordaçada, com pulsos e tornozelos amarrados.
-Bom que você acordou _ ele sorriu_
já estava impaciente para começarmos a diversão.
Ele esquentava a faca numa chama
acesa no fogão enquanto dizia que me daria marcas como as suas. Mas eu não me
daria por vencida assim tão fácil. Lembrei-me do canivete no meu bolso, o
alcancei e comecei a cortar discretamente a corda nos meus pulsos. Então a campainha tocou como por Providência Divina.
-Se você gritar _ ele ameaçou
baixinho_ eu mato quem estiver lá, entendeu?
Fiz que sim com a cabeça e ele se
foi, deixando a faca sobre a mesa, como um lembrete do que me aguardava.
Consegui me livrar logo das cordas e fiquei com o coração apertado ao ouvi a
voz do meu tio vinda da sala. Ben perguntava por mim, passei o dia todo sem dar
noticias.
O cabeça de ovo o despachou e voltou
para a cozinha, quando não me viu amarrada na cadeira, procurou pela faca, mas
ela também não estava onde ele deixara.
-Surpresa _falei após cravar em suas
costas a própria arma.
Dois pensamentos vieram à minha
mente. Primeiro: “Alan, vinguei você, meu irmão.” Segundo: mais uma vez minhas
mãos estavam sujas com o sangue de um monstro. Parecia que minha vida se
resumia a mortes e desgraça.
Usei
a mordaça para estancar o corte no meu braço e voltei ao hospital para falar
com Porter. Contei-lhe tudo o que aconteceu, e disse que podia me prender, eu
não me importava de ficar mais tempo atrás das grades.
-Eu não prenderia minha salvadora
beijoqueira. _Foi sua resposta, e me deixou corada. Ao que parece, pela manhã
ele não estava tão inconsciente quanto o médico falou.
Resumindo, de criminosa, passei a heroína. Não
fui presa por dar cabo daquele monstro, todos da cidade ficaram do meu lado e
ainda conquistei o xerife.
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