quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A entrevista (parte 2)

            David estava em seu apartamento, revisando a entrevista em seu laptop, pensando em Isabella. Pensava em sua expressão quando falava do amor de Helen por Benjamin, em seu sorriso, seu ar sonhador e no brilho dos seus olhos tristes. Ele não conseguia se concentrar em nada além daqueles olhos azuis, queria fazê-los felizes.
            Decidido a falar com ela, o jovem pegou as chaves do carro e saiu. Chegando lá, ele viu Bella sair de carro e resolveu segui-la. A autora foi a uma floricultura, David sabia que depois ela iria ao cemitério. “Vou descobrir de quem é o terceiro túmulo” ele pensou.
            Minutos depois, Isabella entrou no cemitério levando flores. Ela caminhou lentamente entre as lápides de mármore negro e parou diante do túmulo de seus pais. A jovem tirou flores murchas dos suportes e depositou as novas, dizendo algumas palavras que David não pôde ouvir de onde estava. Ele se escondera atrás de uma árvore, de onde conseguia ver a autora.
            Bella seguiu adiante, parando diante de uma lápide alguns metros à frente e David seguiu-a silenciosamente.  Novamente ela renovou as flores do suporte e disse algo, seguido de lágrimas. Dessa vez, o repórter estava perto o suficiente para ouvir. “Mais um mês sem você, meu amor.”
            Por cima do ombro da jovem, ele pôde ver o nome escrito no mármore, “Bruce Finnigan Evans.”
            -Ele era seu namorado?_a voz de David assustou Isabella, fazendo-a virar-se para ele.
            -O que você faz aqui?
            -Ele é o seu Benjamin, não é?
            -Você não respondeu minha pergunta.
            -Você também não respondeu a minha.
            -Porque não é da sua conta.
            -É verdade, não é? Bruce é seu Benjamin.
            -O que você é, um paparazzi? Vai publicar isso numa revista de fofocas? Não respeita sequer um cemitério?
            -Não estou aqui como repórter.
            -Ah não?_ela ironizou_ Veio visitar alguém e me encontrou por acaso?
            -Não.
            -Como eu pensei. Agora se me dá licença, não tenho mais tempo a perder.
            -Bella, espera.
            Isabela passou por David pisando firme, claramente furiosa com a intromissão do repórter. Ele a seguiu até o carro, determinado a falar com ela de qualquer forma e desfazer a impressão de repórter sensacionalista.
            -Bella _ele segurou-a pelo pulso_ vamos conversar...
            -Quer parar de me seguir e soltar meu pulso?
            -Você vai me ouvir?
            Isabella já estava perdendo a pouca paciência que tinha com o repórter quando algo atrás dele lhe chamou a atenção e de repente ela beijou David nos lábios. E mesmo que ele não entendesse o motivo, correspondeu.
            -Ele já foi _ela falou olhando em volta e recuando um passo
            -Ele quem? Agora eu mereço uma explicação, não acha?
            -Sim _ela odiava ter que admitir isso. Mas não aqui, me siga.
            Minutos depois, eles estavam em uma lanchonete, sentados à mesa perto da janela. Era um lugar que trazia muitas lembranças à autora e onde passara incontáveis horas escrevendo partes de “A imortal”. Passado um minuto, David quebrou o silêncio.
            -E então?
            -Primeiro preciso ter certeza de que você não publicará nenhuma palavra do que vou dizer.
            -Como eu disse, não estou aqui como repórter.
            -Ok. Você estava certo, Helen e eu dividimos a mesma história. E o motivo de eu ter te beijado é que vi o “meu Adam” e não queria que ele soubesse que não tive mais ninguém depois de Bruce.
            -Então é por isso que você parece tão triste, não superou a partida do Bruce.
            -Não. É como no livro, não estou morta, mas é como se estivesse.
            -Não devia ser assim. Você é jovem, bonita, inteligente... Só fica sozinha se quiser.
            -Não é assim, amor não é feito de aparência.
            -Não foi o que eu quis dizer. Você poderia dar a chance de alguém te conquistar, te fazer feliz.
            -Falar é fácil.
            -Sei que “seu Adam” te magoou muito e que “seu Benjamin” é insubstituível, mas se dê uma chance de tentar novamente. A vida já é muito curta, não desista de amar assim tão cedo.
            -Você falando assim, até parece que tem algum interesse.
            Não havia dúvidas de que David tinha sim, muito interesse pelo assunto. Ele nunca acreditara que pudesse se apaixonar tão rápido por alguém e agora estava inegavelmente apaixonado por Isabella. E antes que ele respondesse, ela continuou.
            -Homens dão muita dor de cabeça.
            -Alguns de nós têm muito a oferecer.
            -Estou bem assim.
            -Não pareceu isso quando você me beijou só por ver aquele cara.
            -Não tenho que ouvir isso _Bella levantou e antes que pudesse sair, David levantou, segurou seu braço e puxou-a para perto de si, olhando em seus olhos e sentindo sua respiração entrecortada. Antes que ela pudesse reagir, ele a beijou.
            A jovem ficou imóvel por um segundo, depois tentou empurrar o repórter, mas ele a abraçava forte. Por um instante ela cedeu, mas quando David afrouxou o abraço, ela o afastou e deu-lhe um tapa no rosto.
            -Que mão pesada _ele falou colocando a mão sobre a face ardida
            -Se tentar me beijar de novo vai ser pior! _ Isabella ameaçou, virando-se e saindo da lanchonete.
            -Você bem que gostou _ David seguiu-a
            Ela parou na porta, virou-se e falou furiosa:
            -Se você não parar de me seguir, vou conseguir uma ordem de restrição contra você!
            O jovem ficou parado na porta, observando Bella entrar no carro e sair dali, ele sorriu balançando a cabeça e falou:

–Maluca.

Gabriela G. Bastos
A vida de Sangue&Alma

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