segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A imortal (parte 1- Vampiros)


A história a seguir é inspirada em fatos reais

Inglaterra, 1825


Após a sétima despedida
De um mal incurável será a sua partida
Descendentes não vai deixar,
Mesmo depois de o lobo guiar
Só depois que o celeste vier
A eternidade poderá viver

            Helen acordou assustada no meio da madrugada, mais uma vez sonhara com a velha cigana cega que previu seu futuro anos atrás. Aqueles versos a assombravam, ela não entendia as metáforas sobre o lobo e o celeste, nem como poderia viver pela eternidade se morreria de um mal incurável. Ela seria um fantasma? E não deixaria descendentes? Que sorte triste!
            Mas ela preferia não pensar assim, afinal seu tio lhe conseguira um noivo, Albert, um jovem bonito e de boa família. Helen confiava na escolha do tio, que cuidou dela desde a misteriosa morte de seus pais. Todos diziam que seus pais foram mortos por ataque animal, e mesmo isso parecendo impossível naquela região da Inglaterra, houve vários casos parecidos.
            A jovem tentou não pensar na profecia durante aquele dia, que era o mais importante de sua vida: seu casamento. Ela esteve deslumbrante e estava claramente feliz, mesmo que conhecesse pouco Albert, se apaixonara por ele. Depois da festa, os recém-casados viajaram para Londres.
            Nos primeiros meses de casamento, Helen começou a perceber que Albert era ambicioso e vaidoso, mas isso não afetou em nada o amor que ela tinha pelo esposo. Passado um ano, nasceram os gêmeos Lucy e Louis. Diferente do irmão, a menina tinha saúde frágil e morreu antes do primeiro aniversário sem que nada pudesse ser feito. Despedaçada pela morte da filha, Helen dedicava seus dias a cuidar de Albert e Louis, eles eram sua vida.
            Três anos se passaram desde então, era uma noite de inverno quando Albert entrou pela porta da sala assustado e com a roupa suja de sangue. Assustada, Helen quis saber o que houve e se o esposo estava ferido. Ele sentou-se no sofá, disse que não estava ferido e com ar sombrio lhe disse que os humanos não estavam sozinhos, vampiros eram reais. A princípio Helen pensou que Albert estivesse maluco ou tentando pregar-lhe uma peça, mas então ele mostrou que era um deles.
            A visão das presas deixou a mulher horrorizada e com calma, Albert explicou-lhe como isso aconteceu. Ele flagrara um amigo atacando um de seus funcionários e surpreendeu-se ao ver que o agressor era um vampiro. Descoberto, o vampiro virou-se para Albert e disse que teria de matá-lo, mas então ele pediu ao amigo que o fizesse como ele, assim teria de guardar o segredo.
            Helen ficou atordoada, descobrir que vampiros são reais já seria bastante perturbador, mas seu esposo ser um deles era insanidade! E em terceiro, para a loucura estar completa, ela estava sendo convidada à imortalidade. Ela precisava de um tempo para pensar, mesmo que a eternidade ao lado de seu amado fosse convidativa, ela estaria disposta a pagar o preço de viver eternamente? Estaria disposta a ser uma assassina? A ver as pessoas que ama envelhecerem e morrer?
            Alguns meses se passaram até que ela se acostumasse à nova condição de Albert e aceitasse ser imortal como ele, pediu apenas que Louis não fosse transformado também, pelo menos até poder escolher por si só. A mordida não era muito dolorosa, mas o veneno parecia queimar em suas veias e quando subiu para a cabeça tornou-se quase insuportável. Depois do que pareceu uma eternidade a dor cessou subitamente e seus sentidos se tornaram extremamente aguçados.
            Apesar dos novos atributos, Helen sentia-se humana. Ela ainda podia amar, sentir medo, tristeza, felicidade e a garganta muito seca, de repente notou que estava faminta. Olhando para se esposo viu cada detalhe de seu rosto e pensou no quanto era belo, ele lhe disse que precisavam se alimentar. Era o que ela mais temia: matar alguém para alimentar-se. Mas para isto já havia pensado em uma solução que não lhe fosse tão desagradável, ela só tiraria a vida de pessoas más.
            Era noite quando Helen saiu acompanhada de Albert para sua primeira caçada. Ela enxergava perfeitamente a despeito da débil iluminação, sentia o cheiro de tudo e podia ouvir sons que estavam distantes, ouvia inclusive corações pulsando. Seus olhos pousaram em um senhor mal encarado que seguia duas jovens, Helen tinha certeza de suas más intenções e escolheu sua primeira presa.
            Furtivamente, o casal de vampiros acompanhou o homem que ainda estava no encalço das senhoritas. Todos adentraram uma estrada deserta àquela hora e o casal viu as jovens serem abordadas pelo senhor, que as agarrou pelo vestido. Tomada por seus instintos de caça, Helen correu até sua presa e libertou as jovens dizendo para correrem sem olhar para trás. Os olhos da imortal tornaram-se vermelhos diante do rosto confuso do homem, então suas presas se mostraram.
            Albert juntou-se à esposa e os dois cravaram os dentes naquele senhor, que gritou de dor enquanto o casal sugava-lhe o cálido líquido vital. Somente quando a luz abandonou seus olhos e a cor esvaiu-se com o sangue, a fria carcaça foi largada na estrada e os imortais saciados voltaram para casa.
            Com o passar do tempo, Louis cresceu e tornou-se um bom homem. Quando lhe foi perguntado, optou por ser mortal. Ele casou com uma jovem de boa família e teve uma filha, a quem deu o nome de sua falecida irmã. Helen e Albert tiveram que morar em outra cidade para proteger suas identidades, afinal eram jovens demais para ser avós, apenas Louis sabia a verdade.
            Após a mudança, Albert passou a demonstrar cada vez mais desejo por liberdade e aventuras, mostrava-se completamente diferente do rapaz por quem Helen se apaixonara décadas atrás. Mas, em nome daquele amor, a imortal adaptava-se a suas mudanças.
            A jovem Lucy acreditava que a avó fosse irmã de seu pai, e a suposta tia foi a primeira a conhecer de seu desejo de entrar para um convento. A vampira ficou triste com a decisão, afinal era sua ultima descendente, mas mesmo assim ajudou a jovem a realizar seu desejo. Louis e a filha morreram de velhice, pondo fim à linhagem de Helen.
            Inglaterra, 1945
       Pouco tempo após a morte da neta, a imortal teve a maior decepção de sua vida, ao descobrir que Albert a enganara durante anos, traindo-a com outras vampiras e mesmo com algumas de suas vítimas. A descoberta a teria matado se ela pudesse morrer, mas Albert lhe havia tirado esse direito há mais de um século.

            Aquele país lhe trazia lembranças dolorosas após a separação e sem nada que lhe prendesse naquele lugar, ela viu um recomeço no Novo Mundo e traçou seu destino rumo à América. 

A vida de Sangue&Alma
Gabriela G. Bastos

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