Estados
Unidos da América, 1945
Os bons ares do Novo Mundo prometiam acolher Helen. Em
poucos dias ali, já havia notado a presença de outros iguais a ela, mas
preferiu declinar de sua companhia. O vilarejo onde se instalara era cercado de
lendas de feiticeiros e de um povo descendente dos lobos.
Certo dia, a vampira caçou uma presa até a orla da
floresta e enquanto alimentava-se do fluido vital sentiu um cheiro forte que
imaginou ser uma alcateia, mas logo percebeu se tratar de um grupo de rapazes.
Helen podia ouvir seus corações baterem agressivos e teve a certeza de que eram
descendentes dos lobos, seus inimigos naturais.
A imortal largou o corpo inerte de sua caça e manteve as
presas expostas enquanto os lobos se aproximavam, eles podiam sentir seu cheiro
e estavam furiosos por ela alimentar-se no território deles. Os rapazes estavam perto o suficiente para
seu cheiro ser nauseante.
Helen
manteve-se firme e olhou no rosto de cada um deles, então um jovem chamou sua
atenção. Seus olhos castanhos eram doces e seu coração não pulsava agressivo,
quando os outros se adiantaram para repreender as atividades de caça da
vampira, o jovem partiu em sua defesa, mostrando que o corpo no chão era de um
assassino procurado.
A despeito
dos protestos de seus companheiros, o lobo de olhar doce apresentou-se como
Benjamin e ofereceu-se para acompanhar Helen em segurança de volta ao vilarejo.
Surpresa diante da gentileza, Helen aceitou. No caminho, Benjamin desculpou-se
em nome da alcateia e alertou que aquela região era protegida por eles. A
vampira respondeu que eles não precisariam preocupar-se com as pessoas
inocentes, ela só alimentava-se de criminosos.
A nova informação impediria os lobos de atacá-la por enquanto.
Conforme
os meses se passavam, Benjamin frequentava cada vez mais o vilarejo e arrumava
sempre um pretexto pra ver Helen. A amizade que surgiu era contra o instinto de
ambos, mas eles não se importavam, nem mesmo a hostilidade da alcateia os
afastou.
O
sentimento entre o lobo e a vampira crescia e tornava-se cada vez mais belo e
aos poucos um amor floresceu. Apesar de sua condição, Helen sentia-se humana o
suficiente para amar e temer que seu coração fosse partido novamente. O amor de
Benjamin era sincero, e seu maior desejo era fazer a imortal feliz.
Alguns
vampiros nômades passavam por aquela região e, devido à proteção dos lobos,
geralmente não deixavam rastros, mas, certo dia duas mortes foram registradas.
A alcateia voltou-se contra Helen e Benjamin a defendeu.
-Posso
lhes garantir que Helen não matou essas pessoas!
-Filho _o
líder dos lobos tentou convencer o rapaz_ há marcas de presas nos corpos, quem
mais poderia ser?
-Senti o
cheiro de outros vampiros indo para o norte, com certeza algum deles parou para
se alimentar.
-Benjamin,
um dia você assumirá meu lugar e não será um bom líder agindo assim. Chegou a
hora de você escolher entre a alcateia e essa vampira!
A imortal
jamais exigiria dele tal escolha e, nem mesmo quando perseguida e hostilizada,
ela queixou-se de alguma atitude dos lobos. Enquanto a vampira mostrava-se doce
e gentil, a alcateia tornava-se cada vez mais agressiva. Diante daquela
pergunta, Ben teve pouco a pensar antes de decidir-se.
-Escolho a
Helen e conheço as consequências de minha decisão.
-Esta é
sua palavra final?
-Sim.
-Está
ciente de que não haverá volta?
-Estou.
-Adeus,
filho.
-Adeus,
pai.
Escolhendo
a vampira, Benjamin não era mais bem vindo entre os lobos e, não estando mais
preso a eles, poderia finalmente atender ao maior desejo de seu coração:
casar-se com Helen. O pedido foi uma surpresa, mas não demorou muito para que
fosse aceito. Estando fora da alcateia, Ben não mais poderia interceder por sua
amada, então o casal rumou para o Canadá, onde foi realizada uma singela
cerimônia de casamento.
Ali o lobo
e a vampira viveram felizes durante muitos anos. Benjamin entretanto era mortal
e por ser descendente dos lobos, não poderia ser transformado em vampiro, seu
inimigo natural e Helen já não podia gerar descendentes.
Canadá, 2005
Benjamin
envelheceu e morreu ao lado de sua amada Helen. A vampira preparou a nova e
eterna morada dos dois com esmero e pesar, ela não suportaria viver em um mundo
onde seu amado Ben não mais vivesse.
O mausoléu
era escuro, mas podia-se facilmente encontrar um altar no centro, onde repousava
o caixão do lobo e ao seu lado deitara sua esposa, adormecendo pela primeira
vez em 180 anos para deste sono não mais acordar. Tendo como maldição a
eternidade, não podia sequer abandonar esta vida que lhe tirou seu grande amor,
então se negou a viver da forma que conseguiu.
A vida de Sangue&Alma
Gabriela G. Bastos
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