quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A imortal (parte 2 - Lobos)

Estados Unidos da América, 1945
            Os bons ares do Novo Mundo prometiam acolher Helen. Em poucos dias ali, já havia notado a presença de outros iguais a ela, mas preferiu declinar de sua companhia. O vilarejo onde se instalara era cercado de lendas de feiticeiros e de um povo descendente dos lobos.
            Certo dia, a vampira caçou uma presa até a orla da floresta e enquanto alimentava-se do fluido vital sentiu um cheiro forte que imaginou ser uma alcateia, mas logo percebeu se tratar de um grupo de rapazes. Helen podia ouvir seus corações baterem agressivos e teve a certeza de que eram descendentes dos lobos, seus inimigos naturais.
            A imortal largou o corpo inerte de sua caça e manteve as presas expostas enquanto os lobos se aproximavam, eles podiam sentir seu cheiro e estavam furiosos por ela alimentar-se no território deles.  Os rapazes estavam perto o suficiente para seu cheiro ser nauseante.
Helen manteve-se firme e olhou no rosto de cada um deles, então um jovem chamou sua atenção. Seus olhos castanhos eram doces e seu coração não pulsava agressivo, quando os outros se adiantaram para repreender as atividades de caça da vampira, o jovem partiu em sua defesa, mostrando que o corpo no chão era de um assassino procurado.
A despeito dos protestos de seus companheiros, o lobo de olhar doce apresentou-se como Benjamin e ofereceu-se para acompanhar Helen em segurança de volta ao vilarejo. Surpresa diante da gentileza, Helen aceitou. No caminho, Benjamin desculpou-se em nome da alcateia e alertou que aquela região era protegida por eles. A vampira respondeu que eles não precisariam preocupar-se com as pessoas inocentes, ela só alimentava-se de criminosos.  A nova informação impediria os lobos de atacá-la por enquanto.
Conforme os meses se passavam, Benjamin frequentava cada vez mais o vilarejo e arrumava sempre um pretexto pra ver Helen. A amizade que surgiu era contra o instinto de ambos, mas eles não se importavam, nem mesmo a hostilidade da alcateia os afastou.
O sentimento entre o lobo e a vampira crescia e tornava-se cada vez mais belo e aos poucos um amor floresceu. Apesar de sua condição, Helen sentia-se humana o suficiente para amar e temer que seu coração fosse partido novamente. O amor de Benjamin era sincero, e seu maior desejo era fazer a imortal feliz.
Alguns vampiros nômades passavam por aquela região e, devido à proteção dos lobos, geralmente não deixavam rastros, mas, certo dia duas mortes foram registradas. A alcateia voltou-se contra Helen e Benjamin a defendeu.
-Posso lhes garantir que Helen não matou essas pessoas!
-Filho _o líder dos lobos tentou convencer o rapaz_ há marcas de presas nos corpos, quem mais poderia ser?
-Senti o cheiro de outros vampiros indo para o norte, com certeza algum deles parou para se alimentar.
-Benjamin, um dia você assumirá meu lugar e não será um bom líder agindo assim. Chegou a hora de você escolher entre a alcateia e essa vampira!
A imortal jamais exigiria dele tal escolha e, nem mesmo quando perseguida e hostilizada, ela queixou-se de alguma atitude dos lobos. Enquanto a vampira mostrava-se doce e gentil, a alcateia tornava-se cada vez mais agressiva. Diante daquela pergunta, Ben teve pouco a pensar antes de decidir-se.
-Escolho a Helen e conheço as consequências de minha decisão.
-Esta é sua palavra final?
-Sim.
-Está ciente de que não haverá volta?
-Estou.
-Adeus, filho.
-Adeus, pai.
Escolhendo a vampira, Benjamin não era mais bem vindo entre os lobos e, não estando mais preso a eles, poderia finalmente atender ao maior desejo de seu coração: casar-se com Helen. O pedido foi uma surpresa, mas não demorou muito para que fosse aceito. Estando fora da alcateia, Ben não mais poderia interceder por sua amada, então o casal rumou para o Canadá, onde foi realizada uma singela cerimônia de casamento.
Ali o lobo e a vampira viveram felizes durante muitos anos. Benjamin entretanto era mortal e por ser descendente dos lobos, não poderia ser transformado em vampiro, seu inimigo natural e Helen já não podia gerar descendentes.
Canadá, 2005
Benjamin envelheceu e morreu ao lado de sua amada Helen. A vampira preparou a nova e eterna morada dos dois com esmero e pesar, ela não suportaria viver em um mundo onde seu amado Ben não mais vivesse.
O mausoléu era escuro, mas podia-se facilmente encontrar um altar no centro, onde repousava o caixão do lobo e ao seu lado deitara sua esposa, adormecendo pela primeira vez em 180 anos para deste sono não mais acordar. Tendo como maldição a eternidade, não podia sequer abandonar esta vida que lhe tirou seu grande amor, então se negou a viver da forma que conseguiu.


A vida de Sangue&Alma
Gabriela G. Bastos

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